Distância // Distance

Nomeação para Melhor curta-metragem de Mestrado e Doutoramento nos Prémios Sophia Estudante 2022



Género:Drama / Experimental 
Título original:Distância
Realizador:Raquel Medeiros
Atores: Luís Fernandes, Beatriz Wellenkamp
Ano:2021
País:Portugal
Duração:10’23’
Genre: Drama / Experimental
Original Title:Distance
Director: Raquel Medeiros
Actors: Luis
Fernandes, Beatriz Wellenkamp
Year: 2021
Country: Portugal
Duration: 10'23'



Sinopse

Distância (2021) é uma curta-metragem queintroduz-nos a duas personagens, Alice e Tomás, que revisitam a memória um do outro enquanto discutem sobre aquilo que foi a relação de ambos. Entre questionamentos, afirmações, exclamações e negações, o filme desenvolve-se a partir daquilo que cada um deles pensa ter vivido, enquanto redesenham a imagem que guardaram um do outro.


Synopsis
Distance (2021) is a short film that introduces us to two characters, Alice and Tomás, who revisit each other's memories while discuss what their relationship was. Among questions affirmations, exclamations and denials, the film develops from wha each one of them thinks they have lived, while they redesign the image they kept for a from the other.






















DECLARAÇÃO DE INTENÇÕES

Falar de amor é indiscutivelmente um território abundante, onde a terra é marcada pela erosão de verdades e falácias associadas a este. Quem pisa este chão procura assentar os pés firmemente na terra, apesar de nem sempre conseguir prever as dimensões do risco de tal ato, possivelmente inconsciente. A probabilidade de desabamento é uma constante. O peso do corpo carregado de memórias e sentimentos boémios, que parecem ser inatos à pessoa, é desproporcionalmente maior do que o piso que o sustenta. Quando a terra cede, o pânico instala-se, arquitetando grandes e robustas paredes, cujas dimensões intimidam qualquer um, impedindo assim ousadas tentativas de invasão territorial. Encurralados neste novo espaço projetado pelo próprio imaginário, parece que cedemos e curvamo-nos progressivamente perante infrutíferos pensamentos circulares, que exploram e revivem emoções e experiências outrora vividas. Tomar consciência de tal estado parece deixar de ser um ato de bravura, que qualquer um pode assumir, mas sim a fortuna de muito poucos.

Distância (2021) introduz-nos a duas personagens, Alice e Tomás, que revisitam a memória um do outro enquanto discutem sobre aquilo que foi a relação de ambos. Entre questionamentos, afirmações, exclamações e negações, o filme desenvolve-se a partir daquilo que cada um deles pensa ter vivido, enquanto redesenham a imagem que guardaram um do outro. Fundamentalmente, o final do relacionamento entre ambos consistiu numa grande mudança que atingiu o seio da alma de cada um deles. Não existindo uma forma linear de processar tamanha metamorfose, o caos, a confusão e talvez uma certa repetibilidade de ideias tomam o lugar de uma ilusória serenidade. Atendendo à pluralidade do amor e à forma como este é vivido, percebe-se a impossibilidade de nos ensinarem como olhar a outra pessoa, quando esta deixa de fazer parte do nosso dia-a-dia.

Aparentemente, Alice e Tomás partilham o mesmo espaço, conversam cara a cara, discutem o mesmo tema, mas isso não significa que o momento esteja a ser experienciado da mesma forma, ou sequer significa que se consigam ver verdadeiramente. Existe uma certa desconexão. Formalmente, o uso do split screen, nesta curta metragem, evoca a distância que existe entre ambos, não pretendendo necessariamente seguir uma lógica de um confronto abrupto, onde inequivocamente, um está contra o outro, mas sim mostrar que ambos atravessam períodos de vida diferentes, em que o tempo da ação, sobreposições de vozes e o uso de tons quentes e frios o denuncia. Sem grandes aparatos, ao utilizar esta técnica, o objetivo é respeitar esta divisão de ideias, vontades e posicionamento. Refletir sobre relações humanas é uma tarefa que requer muitos anos de preparação e tantos outros de experiência. Caímos vezes sem conta na mesma armadilha de guardar a memória do outro a partir de ideias que criamos no espaço da nossa mente, sem reparar nas diferenças entre si.

Em Distância também o corpo conta uma narrativa importante. Cada um dos personagens move-se a seu belo prazer. O corpo de ambos obedece a uma vontade que vai para além do desejo do outro, mesmo que aparentemente pareça que seguem o mesmo discurso. No filme foi importante evidenciar a expressão única e espontânea, que cada corpo assume através da procura de movimentos livres e não coreografados. Outro aspeto formal a ressalvar, nesta curta-metragem, é o da iluminação. Sob um fundo de cor sólida, o uso da contraluz tem objetivo evidenciar a sombra. Esta alude à dificuldade que ambos têm de ver (entender) o outro por completo, pois ao mesmo tempo que procuram esconder-se, também pretendem encontrar-se. Ao longo do filme seguimos estas duas personagens, que querem e buscam coisas diferentes, mas, vezes sem conta, cedem ao conforto daquilo que já conhecem, mesmo tendo noção que essa atmosfera agradável já não existe. As tonalidades utilizadas no filme, seguem o tom da conversa. O discurso balança entre subtis e densas palavras, que tanto podem transmitir uma certa leveza e alívio, como por vezes, exercem um peso em cada um deles, a que não lhes é permitido escapar. A dicotomia entre o uso de um tom quente e um tom frio, mais uma vez, serve para demarcar a distância a que estão um do outro. É como se cada um deles assumisse um tom específico, que entra em conformidade com a sua vontade interior. Neste caso, a ela é atribuído um tom quente, pois Alice quer continuar num relacionamento, que lhe dá conforto. Por sua vez, Tomás assume um tom frio, porque quer terminar tudo, mesmo que isso signifique ir atrás de um futuro incerto.

De modo geral, o filme não procura ser uma romantização de um relacionamento amoroso, muito menos uma dramatização deste. A realidade é simples, mas nem por isso menos complexa. Simplesmente existe uma distância entre aquilo que é real e aquilo que desejamos que o fosse.




STATEMENT OF INTENT

Talking about love is indisputably an abundant territory, where the land is marked by the erosion of all the truths and fallacies associated with it. Whoever steps on this ground tries to set their feet firmly, despite not always being able to predict the dimensions of the risk of such an act; possibly unconsciously. The probability of collapse is constant. The weight of the body laden with bohemian memories and feelings, which seem innate to being, is disproportionately greater than the floor that supports it. When the ground gives way, panic sets in, building large and robust walls with dimensions to intimidate anyone, thus preventing daring attempts at territorial invasion. Trapped in this new space projected by the imagination itself, it seems that we give in and progressively bow to fruitless circular thoughts; which explore and relive emotions and experiences that were once lived. Becoming aware of such a state no longer seems to be an act of bravery, which anyone could assume, but rather the fortune of a very few.

Distance (2021) introduces us to two characters, Alice and Tomás, who revisit each other's memories while discussing how their relationship was. Between questions, affirmations, exclamations and denials, the film develops on what each of them thinks that they once lived, redrawing the image they kept of each other. Fundamentally, the end of their relationship consisted of a great change that reached the core of each of their souls. As there is no linear way to process such a metamorphosis; chaos, confusion and perhaps a certain repeatability of ideas take the place of an illusory serenity. Given the plurality of love and the way in which it is lived, we can see the impossibility of teaching us how to look at another person, especially when they are no longer part of our daily lives.

Apparently, Alice and Tomás share the same space, talk face to face, discuss the same topic, but that doesn't mean that the moment is experienced in the same way, it doesn't even mean that they truly see each other. There is a certain disconnection. Foremost, the use of split screen in this short film evokes the distance that exists between the two: not necessarily intending to follow a logic of an abrupt confrontation, where one is unequivocally against the other, but rather to show that both go through different periods in life. The timing of the action, voice overlays and the use of warm and cold tones denounces this. When using this technique, without big fantasies, the objective is to respect the division of ideas, desires and positioning. Reflecting on human relationships is a task that requires many years of preparation and many more years of experience. We fall, again and again, into the same traps of keeping the memory of the other from ideas that we create in the space of our mind and sometimes it is difficult to realize the differences that are evident.

In Distance, the body also tells an important narrative. Each of the characters moves according to their pleasure. The bodies of both obey a will that goes beyond the desire of the other, even though apparently it seems that they are following the same discourse. In the film, it was important to highlight the unique and spontaneous expression that each body assumes through the search for free and non-choreographed movements. Another aspect to note in this short film is the lighting. On a solid-colored background, light falls behind the characters with the aim of highlighting their shadow. This alludes to the difficulty that both have to see (understand) the other completely, since at the same time that they are trying to hide, they also want to meet. Throughout the film we follow these two characters, who want and seek different things, but, over and over again, give in to the comfort of what they already know; even though we are aware that this pleasant atmosphere no longer exists. The tones used in the film follow the tone of the conversation. The speech swings between subtle and dense words, which can either convey a certain lightness and relief, or sometimes exert a weight on each of them, which they are not allowed to escape. The dichotomy between using a warm tone and a cool tone, serves to demarcate the distance they have from each other. It is as if each one of them takes on a specific tone, which is in accordance with their inner will. In her case she is given a warm tone, as Alice wants to continue a relationship which gives her comfort. For his part Tomás takes on a cold tone because he wants to end everything, even if it means going after an uncertain future.

Overall, the film does not seek to be a romanticisation of a love relationship, much less a dramatization of one. The reality is simple, but no less complex for that. There is simply a distance between what is real and what we wish was real.